quarta-feira, 9 de junho de 2010

San Andres - El mar de los siete colores - Carnaval de 2008


Lembro da emoção que senti ao desembarcar na Ilha, o mar tem mesmo sete cores, na verdade tem muito mais...

Alguns meses antes eu tinha visto uma matéria sobre uma tal ilha do Caribe que pertencia à Colômbia, não muito conhecida na época (talvez ainda não seja para a grande maioria das pessoas). Fiquei encantada com as imagens que pareciam do Tahiti. Fiquei muito curiosa e não tirei da cabeça a ideia de incluir San Andres em uma próxima viagem de férias.

Normalmente viajamos no final do ano, saindo antes do Natal. Neste ano não seria diferente. Disse bem, não seria... mas foi!

Compramos passagens para Bogotá, Cartagena e San Andres. Passaríamos uns dias em Bogotá, pra conhecer melhor a cidade, coisa que não fizemos da outra vez em que estivemos lá, ficar uma semana em Cartagena, e depois seguir para a Ilha.

Já estava tudo reservado... passagens, hotel... tudo.

Só que nesta época eu estava tentando resgatar algo perdido na adolescência, resolvi começar a andar de patins.

Dia 02/12/2007. Patinando no Parque do Ibirapuera.

Por volta de umas sete e pouco da noite eu já estava cansada. Tirei meus patins e coloquei os tênis. Pra mim, o dia de patinação estava encerrado. Mas por insistência... coloquei uns patins muito maiores do que os meus pés, e com rolamentos muito melhores. O que isso significa? Que anda muito, muito mais...

Dei umas voltinhas pela marquise, deslizei como nunca... mas quando eu já estava voltando, me desequilibrei. Ao invés de jogar meu corpo para trás e cair direito, tentei ficar em pé e acabei caindo pra frente... conclusão, senti na hora que tinha quebrado meu pé.

Era o dia da inauguração da famosa árvore de Natal. Neste horário o estacionamento estava fechado, ninguém podia entrar no parque de carro, apenas sair, e pro meu azar, o nosso carro estava do lado de fora. A marquise foi esvaziando... o socorro demorou. Estava no chão, morrendo de dor e sozinha... esperando... ouvia os gritos, aplausos e os fogos... todos felizes por causa de uma árvore idiota... e eu lá. O segurança que estava tomando conta de uma exposição se aproximou pra me dar atenção e me consolar. Ele me disse que por causa de uma queda com patins ele perdeu a chance de virar jogar de futebol na Europa... que consolo, hein?! Mas de certa forma percebi que a minha situação não era tão ruim quanto a dele tinha sido...

Nada de socorro. O carro não pôde entrar mesmo. Após algum tempo, uma viatura da guarda civil foi me buscar, eles me levaram até o bolsão de estacionamento externo, onde o carro estava.

Chegando no hospital, passei pelo médico e fui fazer a radiografia. Quando voltei para a avaliação, a sala estava ocupada. Fiquei na porta esperando. Tinha um homem sendo atendido. Ele gritava tanto que comecei a ficar assustada, pensei: “Será que ele vai fazer isso comigo também?”. Quase comecei a chorar antes da hora...

Ao ver a radiografia o médico confirmou o que eu já sabia, mas ainda tinha a esperança que pudesse ser outra coisa. Desta vez sim, comecei a chorar! Eu dizia: “Você está brincando, não é verdade!”. Ele até quis se irritar com isso, mas achou melhor rir da minha cara... eu falava: “fodeu... fodeu...”. Ele ria. Perguntei quanto tempo eu ficaria de gesso, e ele respondeu que passaria bem mais do Natal e do ano novo.

Pronto, isso acabou com as férias.

Foi uma fase difícil, nunca tinha quebrado nada em toda minha vida. Mas a experiência me fez sentir na pele o que passam as pessoas com mobilidade reduzida. Eu também tinha acabado de largar meu emprego e estava me preparando para uma nova vida... esse acidente certamente me gerou muitos conflitos internos sobre a decisão que eu havia tomado.
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Foto: Edmilson Sanches
Já que não poderia mais fazer a viagem planejada, o jeito foi passar uns dias no litoral de São Paulo. Ficava o dia todo sentada em uma cadeira com a perna pro alto... às vezes me refrescava com a água do mar colocada em garrafas pet. Que situação!

Tirei o gesso em muito menos tempo do que eu imaginava. Em 38 dias. Passei então a fazer fisioterapia intensiva, queria ficar boa pra poder viajar no carnaval. Se eu conseguisse andar sem muletas já seria lucro.

Aproveitamos as passagens e reservas que tínhamos feito para o final do ano. Mas Bogotá e Cartagena ficaram de fora, não teríamos tempo pra isso. Emendamos a semana do carnaval, o que nos rendeu nove dias de viagem.

Foto: Edmilson Sanches
San Andres é um paraíso caótico. Inacreditável! Ao mesmo tempo em que tem belas praias, tem um centro comercial grande e movimentando. Quase não existem carros, a maioria dos moradores circula de motos. Regras de trânsito? Faixas de pedestre? Nem pensar! Fora a poluição que essas motos causam... é uma loucura! Mas ao andar duas quadras, tudo isso parece não existir.

Por ser uma área de livre comércio, é possível comprar produtos muito baratos, como eletrônicos, perfumes, bebidas, etc. Pra se ter uma idéia, minha mala foi com 15 kg e voltou com 27 Kg, cheia de bebidas e muambas.

Para dar a volta à ilha é possível alugar carros de golfe, chamados de mulitas. A estrada beira o mar em quase toda sua extensão. Alugamos um carrinho desses, claro! Passamos por paisagens incríveis.

Foto: Edmilson Sanches
O hotel em que ficamos, Portobelo, é de um brasileiro, cearense, o Carlos Mendes. Foi o melhor preço que encontrei, os quartos são confortáveis e o café da manhã é muito bom. Carlos nos deu um quarto com vista para o mar. A euforia foi enorme ao entrar no quarto e se deparar com aquela paisagem maravilhosa.

Foto: Edmilson Sanches
A comida não é cara. Na verdade, existem opções para todos os bolsos. Achamos um lugar que servia peixe com arroz de coco... nossa! Muito bom. O prato, com direito a sopinha de entrada, saia por mais ou menos uns R$ 8,00.

A cerveja local também era muito boa, a Aguila, tomava todos os dias, sem exceção!

Na primeira noite, acordei com o som de mariates tocando embaixo da minha janela! Claro que levantei para ver o que estava acontecendo. Eles não estavam caracterizados com roupas extravagantes, mas mesmo assim foi bem interessante. Proximo ao hotel existiam diversos bares, não era um local muito silencioso, toda hora aparecia alguém fazendo performances pra ganhar uns trocados.

Toda vez que escuto “Is this love” do Bob Marley, lembro de um maluco que cantava reggae de mesa em mesa tocando chocalhos feitos com latinhas... ele sempre abordava as pessoas cantando “I wanna love you and treat you right...” e balançando seu chocalho... e não é que ele cantava bem?! Era uma figura interessantíssima, com seus dreads e roupas esquisitas. Um dia ele nos abordou, quando dissemos que éramos brasileiros ele queria que nós tocássemos seus chocalhos e cantássemos algum samba... haha...

Algumas pequenas ilhas ficam bem próximas da ilha principal. Visitei as ilhas Johnny Cay, Acuario e Haynes Cay. Com cinco dólares era possível visitar qualquer uma delas, ou todas ao mesmo tempo.

A ilha Acuario é bonita, mas fica extremamente cheia. Existem muitos peixes que só estão lá porque os turistas os alimentam com pães. No local é possível alugar snorkel, mascara, nadadeiras e até sapatinhos de mergulho para andar sobre os corais mortos.
Em uma ocasião, nesta mesma ilha, um conterrâneo veio conversar com a gente: “Nossa, meu, paraíso nada, olha que ‘muvuca’... meu voo foi horrível... meu quarto cheira mofo...”. E foi um blá, blá, blá... parecia o Marcelo Adnet imitando paulista no seriado Cilada... lembrei disso na hora, foi difícil não rir da cara dele!

Do Acuario é possível ir a Haynes Cay andando na maré baixa. A ilha é muito bonita, mas não tem praia. Tem alguns quiosques que quase sempre estão vazios. Lugar excelente pra fugir da movimentação do Acuario, quase ninguém se arrisca a atravessar o canal andando.

Johnny Cay é o paraíso perfeito. Uma ilha pequena que mais parece aquelas dos desenhos do pica-pau, um pedaço de areia com uns coqueiros no meio. Muitos quiosques, restaurantes e reggae. Ninguém mora na ilha, todos que trabalham nos quiosques vão e voltam todo dia.

Os nativos são negros, na maioria. Eles preservam o seu idioma crioulo, uma mistura de inglês com francês e sei lá mais o quê.

Tivemos contato com crianças nativas no bairro San Luis. Apesar de existir um hotel grande nesta praia, não encontramos muitos turistas andando por ela. O contato com essas crianças foi fantástico, apesar de a comunicação verbal não ter sido lá essas coisas.

Queríamos conhecer as ilhas de Cayo Bolívar e Albuquerque. Algumas imagens que vi naquela reportagem foram feitas nestas ilhas. Não foi possível visitá-las. Elas ficam muito distantes, depois da barreira de corais. Dependia de barco apropriado, das condições do mar, e da procura dos turistas (que não ocorreu).

Fiz apenas um mergulho. Ainda sem credencial. Eu deveria ter feito o curso para me credenciar no começo de dezembro, mas como quebrei o pé, nem isso pude fazer. Acabei aproveitando menos do aproveitaria se já estivesse credenciada, tive que fazer um mini curso e com isso lá se foi um cilindro que eu poderia ter usado mergulhando... mas valeu a pena, foi maravilhoso. Eu só faria o curso aguns meses depois, antes de ir para Los Roques (Venezuela).

Do outro lado da ilha, o menos habitado, existe um lugar chamado "La piscinita", onde também os peixes são atraídos por pedaços de pão. Mas fora isso, o lugar tem água cristalina, muitos corais e água calma. Excelente para passar o dia.

No porto são oferecidos passeios em veleiros. Fizemos um desses. Bom, o que eles chamam de veleiros na verdade não são veleiros, mas tudo bem... O barco praticamente nem sai do lugar, só dá uma pequena volta na baia. O que se faz lá dentro é beber e dançar. Teve até a brincadeira do “mete-lo, saca-lo”... dá pra imaginar o que seja isso, né? Algo parecido com as porcarias que os grupos de axé fazem por aqui. Mas era algo bem engraçado.

Por todo conjunto, essa viagem foi uma das melhores experiências de minha vida. As pessoas bonitas, simpáticas... a comida típica, a cerveja... a vendedora de queijo com goiabada: “casadito a la ordem!”; os vendedores de colarzinhos de corais, as mulheres que faziam tranças: “trança amiga?!”... os malucos “Bob Marleys”... o reggae, a salsa... as compras, o whisky, o rum, o conhaque.. as mulitas... os corais... e tudo mais!!

Não é possível descrever com palavras todas as sensações que eu vivi. É preciso estar lá pra conferir de perto tudo que a ilha tem de melhor a oferecer. Não vejo a hora de voltar.

Como dizia a música mais tocada por lá naquela época:

“...hay hay hay haaaaaay que bonita es esta vida y aunque no sea para siempre si la vivo con mi gente es bonita hasta la muerte con aguardiente y tequila..”
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Mais fotos:



















2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o relato
Me enchi de vontade de conhcer
Gerson Weber

Unknown disse...

Navegando por ai, encontrei seu blogger comecei a ler seu relato sobre "la viaje a San Andres"
Muito bacana, confesso que dei muita risada imaginando a cena do acidente com os patins e na mesma hora o povo comemorando a inauguração da arvore de Natal hahaha!.
Parabéns o lugar deve ser maravilhoso.