quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vozes Ambulantes

A mistura de ruídos emitidos das mais diversas fontes sonoras é uma das características mais marcantes dos grandes centros urbanos. São manifestações populares que se fundem com ruídos de motores, escapamentos e buzinas de veículos, misturados a alto-falantes de lojas populares sintonizando emissoras de rádio ou divulgando suas ofertas para tentar chamar a atenção dos transeuntes apressados que ignoram a quase tudo, principalmente aos apelos dos pedintes com suas vozes sofridas, que quase se perdem em meio à disputa pelo espaço sonoro promovida por bancas de camelôs vendendo CDs piratas. Nessa disputa também entram os religiosos com suas bíblias nas mãos, gritando freneticamente e tentando, a qualquer custo, impor suas verdades. Além, é claro, da concorrência entre vendedores ambulantes que anunciam seus produtos das formas mais criativas possíveis para tentar persuadir um eventual comprador. E estes não estão apenas nas ruas, estão por toda parte, batendo de porta em porta, invadindo lojas do comércio, restaurantes, ônibus e vagões de trens da CPTM e do Metrô.

Peça sonora: Batucada do Real - Foto: Fabiane Duarte (Graffiti de Os Gêmeos na estação Itapevi)

Estes elementos sonoros compõem um cenário muito comum àqueles que residem na Grande São Paulo, estão praticamente incorporados ao dia a dia dessas pessoas, o que faz com que passem despercebidos pela maioria delas. Mas não para mim. Sempre me interessei pela forma e pelo conteúdo desses sons. Essas informações sempre se destacaram aos meus ouvidos, como se estivessem sendo filtradas, como se outros ruídos servissem apenas como um complemento do ambiente sonoro.

Peça sonora: Vozes de São Paulo - Foto: Edmilson Sanches

Por isso produzi peças sonoras evidenciando a linguagem oral utilizada pelas pessoas que fazem de suas vozes um instrumento de trabalho, e mais do que isso, de persuasão. A maneira como estas pessoas fazem seus discursos é muito semelhante, não apenas pelo jeito “cantado” de falar, mas também pela pronuncia das palavras, e pelo uso de expressões específicas. Essas são para mim as “Vozes ambulantes”. Vozes que estão por toda parte, que se repetem, que se parecem, que se confundem.

Peça sonora: Condolentes - Foto: Fabiane Duarte