terça-feira, 8 de junho de 2010

Crise de idade

Nunca imaginei que eu teria crises de idade, mas pelo visto deve ser inevitável, cedo ou tarde elas aparecem.

Este ano eu passei meu aniversário totalmente isolada, em uma cidade pequena, sem comunicação, sem Internet, sem celular... até aí normal, gosto de me isolar de vez em quando. Mas desta vez fiquei refletindo sobre os porquês da vida.

Olhei no espelho e pensei naquela música em que um cara frustrado diz assim: “quando olho no espelho... estou ficando velho e acabado...”. Pois é, não me senti assim tão acabada, mas percebi que as rugas estão aparecendo e o tempo está passando.

É difícil encarar o fato de envelhecer, até porque, ainda me sinto uma adolescente.

Ok, isso é a maior bobagem, claro, eu sei bem disso. Sempre achei o máximo ficar mais velha e consigo enxergar a beleza de cada fase da vida.

Mas essas reflexões me fizeram encarar a realidade. Deve estar na hora de começar a ter um comportamento mais adulto e de assumir mais responsabilidades.

O que quero dizer com isso? Não sei. E esse é o problema.

Nesta cidade pra onde fui neste feriado, Alagoa-MG, senti que a vida que eu imaginava que queria pra mim é totalmente monótona, exageradamente pacata.

A cidade fica na serra da Mantiqueira, tem diversos picos com mais de 2000 metros de altitude e muitas cachoeiras.

Chegamos dia 03 de junho, meu aniversário. Fomos até uma cachoeira, mas como estava muito frio, não deu pra aproveitar muito. Na verdade, nem agasalhada consegui ficar muito tempo sentada em uma pedra, o que dirá entrar na água. Impossível naquele momento.

À noite, vimos a procissão de Corpus Christi, e um pouco antes, uma cena inusitada: um cortejo fúnebre na estrada de terra, o caixão estava em uma pick-up e os moradores seguiam o carro à pé. Toda a cidade mobilizada com a morte do cidadão...

Na mesma noite, cansei de andar pra lá e pra cá procurando alguma bebida “tomável”. Nem parecia que estava em Minas Gerais, não tinha nenhuma cachaça boa nos bares. Por volta de nove e pouco da noite já não tinha mais ninguém na rua.

Conclusão, nada pra fazer à noite. O jeito foi dormir. Na manhã seguinte a ideia era subir um dos picos, a pedra de Santo Agostinho, com 2400 metros de altitude.

Fomos até o bairro Garrafão, onde começa a trilha para o pico. Um lugar muito bonito. Mas a pedra estava encoberta. Não era um bom dia para fazer a subida.

Desistimos. Tínhamos a esperança de que o dia seguinte amanheceria com tempo limpo.

No Garrafão também existe um túnel, uma antiga mina de ouro. Parecia interessante. Não conseguíamos encontrar a entrada da trilha, não existe nenhuma sinalização para os pontos de interesse. Acabamos encontrando a casa de Odir, famoso por produzir um dos melhores queijos parmesão da cidade. Saímos de lá com um queijinho, claro! Ele nos passou informações de como chegar ao túnel. Achamos a trilha, fomos até a entrada da mina, mas sem lanternas era impossível seguir.

Mais uma noite sem nada pra fazer na cidade, desta vez, nem os botecos abriram. A “balada” era na padaria onde tinha uma TV e altofalantes espalhados por todo lado. Posso garantir que as músicas que tocavam não me agradavam nem um pouco.

Não tinha nenhum barzinho agradável, café, doceria, lojinha de artesanato, nada. Os lugares para comer também eram poucos. E a espera pela comida era em torno de uma hora.

O melhor desta cidade são as pessoas, extremamente simpáticas, prestativas e adoram uma prosa... isso ajudou um pouco a passar o tempo (tempo que, aliás, não passava nunca).

O dia seguinte amanheceu com chuva. Decidimos ir embora para Aiuruoca-MG (30 Km por estrada de terra). Eu queria voltar ao vale do Matutu onde tem uma comunidade daimista.

Tentamos chegar em Aiuruoca, mas por causa da chuva, a estrada ficou intransitável. Tentamos então voltar pelo outro lado da estrada, sentido Itamonte-MG, por onde chegamos. Na primeira subida percebemos que por este caminho também seria impossível.

De volta para a estrada de Aiuruoca, mais uma tentativa. Sem sucesso, obviamente.

Decidimos então cortar caminho pelo bairro Garrafão, onde estivemos no dia anterior, já que a estrada até esta parte alta da cidade era toda coberta por cascalho, assim não teríamos que pegar as subidas cheias de lama.

Chegar até lá foi difícil, o carro patinava demais. Mas enfim deu certo. Conseguimos chegar ao asfalto.

Quando percebi que estava presa na cidade entrei em pânico. Tudo que eu mais queria era sair dali. Comecei a me lembrar de quando ficamos ilhados em Ariri, um bairro de Cananéia-SP (mas essa é outra história: “os alagados de Ariri”).

Fomos então para Penedo-RJ, pelo menos lá eu não podia reclamar de não ter o que fazer... Muitos bares, restaurantes, bebidas boas, lojas de artesanato, enfim...

No domingo, passamos no parque de Itatiaia-RJ. Eu até arrisquei um banho de cachoeira, mas não consegui ficar nem 30 segundos dentro d’água. Tentei nadar e senti meus pés congelados, não sentia mais nada. Mas isso me fez um bem enorme.

Feriado, viagem curta... mas o suficiente pra eu perceber que não posso viver a vida que eu idealizei. Sinto muita vontade de sair de São Paulo e levar uma vida tranquila. Mas será que eu conseguiria? A vida na roça é linda, poética... mas as dificuldades pra quem já está acostumado a ter acesso fácil a tudo são muitas.

Chego a ser incoerente com as minhas próprias convicções. Cada experiência nova me faz repensar o que quero, e acabo mudando de ideia... Preciso ter mais maturidade pra encarar a realidade e descobrir do quê realmente preciso. Mas como isso não acontece, acabo sentido o peso de meus trinta e dois anos mais do que deveria.
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