terça-feira, 22 de março de 2011

Buscando inspiração


A inspiração pode vir de onde menos se espera. Às vezes preciso do caos em minha mente para que a partir dele eu inicie o processo de concatenação dos fatos... mas às vezes (como agora), estar com a mente vazia também pode dar um empurrãozinho para a tomada de decisões...

Ontem eu estava entediada com a vida rotineira e pacífica que tenho tentado levar sem me lamentar demais. Mas hoje, decidi quebrar a rotina e comecei o dia assistindo a um dos DVD’s que tenho em casa, mais precisamente, assisti ao filme “Fale Comigo” (Talk to Me, 2007).

Sinopse: Em um período turbulento da história norte-americana, a música parece ser a grande salvação para a comunidade negra de Washington. Inspirado na história real de Ralph Waldo "Petey" Greene (Don Cheadle), o filme retrata a luta do ativista negro contra o preconceito racial em uma rádio exclusiva para brancos na década de 60. Misturando ritmo e discursos de ação, o DJ tenta conscientizar a população nas suas enérgicas transmissões.

Assistir a um filme divertido logo cedo faz o dia começar melhor, claro. Mas não foi apenas isso que aconteceu... fez com que eu me lembrasse de quem sou, da profissão que tenho e não exerço: Radialista.

Sim, sou radialista, como DRT e tudo. Devo ter escrito esta palavra em muitas fichas... de hotel, de consultório médico e tantas outras. Uma palavra... apenas uma palavra... nada mais que isso. Palavra que serve apenas para preencher fichas (sempre recusei utilizar a outra opção que é bem ruim... comunicóloga...).

Menos mal, por muito tempo fiquei incomodada por não saber exatamente o que escrever (ou responder) na hora de preencher o campo ‘profissão’... dizia fotógrafa, entre outras coisas... mas todas eram pseudoprofissões... não regulamentadas de verdade. Depois que terminei a faculdade fiquei feliz por ter, finalmente, algo para responder nessas ocasiões.

Atualmente, nem para esta simples finalidade minha profissão tem servido. Prefiro não dizer que sou radialista para não ter que escutar perguntas idiotas.

Sinto um enorme vazio por não exercer uma profissão que traga algo de útil à sociedade... de forma mais humana, que ajude outras pessoas. Meu trabalho real serve apenas para atender às necessidades de uma sociedade de consumo... isso é importante e necessário, de certa forma, mas não resolve em nada os problemas sociais que tanto me incomodam.

"Talk to Me" fez com que eu lembrasse da grande importância que minha profissão tem (minha profissão de formação, e não o trabalho remunerado que exerço). Não preciso ser assistente social ou coisa parecida para tentar realizar tais mudanças... não! Preciso, sim, dar voz às pessoas que precisam ser ouvidas... assim como já fiz outras vezes. O poder dos meios de comunicação é insuperável... ainda mais hoje, com a Internet, onde posso publicar o que eu quiser sem prévia aprovação. Não posso me acovardar diante de uma situação insatisfatória... estou assim pelo simples fato de ter me acomodado. Quero, novamente, soltar o verbo e mostrar aquilo que incomoda.. cutucar a ferida de quem não quer sentir os efeitos de uma sociedade tão desestruturada.

A inspiração veio.

Durante o período da tarde, pensei em novos projetos (e em antigos não concretizados) para voltar à ativa... quem sabe assim, passo a ficar mais à vontade na hora de preencher dados cadastrais.


segunda-feira, 21 de março de 2011

Rotina

Tudo que começa a se repetir demais perde a graça... tenho sentido isso em relação às minhas histórias... de repente percebo que, como tudo na vida, até a maneira de narrar fatos começa a se tornar rotineira. Por isso, hoje, não vou escrever nada previsível... na verdade, não vou escrever nada. Esta é apenas uma pausa no dia para um ínfimo momento de reflexão acompanhado de um café bem forte e amargo.

Mas afinal, por que será que tenho tanto medo da rotina? Talvez eu não tenha medo da rotina em si, mas do que ela simbolicamente representa para mim: Tédio.

Será pura paranóia de quem acordou cedo numa segunda-feira cinzenta?

A rotina é um saco... isso é fato. Mas ao mesmo tempo sinto que tenho uma enorme necessidade de viver com ela... a odeio quando está comigo e sinto sua falta quando se afasta de mim.

No fundo, acho que a maioria das pessoas sente o mesmo...

Tempo esgotado. O café acabou... devo voltar ao trabalho, ou melhor, devo voltar à dita cuja ...rotina...

terça-feira, 15 de março de 2011

Bonito é... mas...

Nessas férias conheci o paraíso!!

... Bonito?! Não, Bonito não!!! Estou me referindo a Pedro Juan Caballero! Mas ainda não é sobre isso que vou falar...

Bonito até pode ser interessante, mas eu não chamaria exatamente de paraíso. Pode ter muita gente que ao ler esse comentário vai achar que sou maluca, exigente demais, ou até mesmo arrogante. Pois bem, sou um pouco das três coisas que acabo de citar.

Eu simplesmente detestei o fato de ter escolhido como destino de férias um lugar que não tem muito a ver com a minha personalidade. Por que?! Vou dizer porque: não vale o que custa!! Me senti uma trouxa tendo que pagar tão caro para apreciar a natureza...

Na teoria, naquela região deveria haver um parque nacional... está no mapa! Parque Nacional da Serra da Bodoquena... mas o parque não existe, como diriam por aí “é só pra inglês ver”. Quase todas as atrações estão em propriedade particular... e como nenhum fazendeiro quer perder sua “galinha dos ovos de ouro”, estas propriedades se enquadraram nas tais RPPN (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), que são, obviamente, áreas particulares de preservação (sim, sim, de preservação do PATRIMÔNIO financeiro de seu dono, claro!!). Só que para o Ibama (e não sei mais quem) legalizar o funcionamento de uma RPPN é preciso que o dono da propriedade desembolse um valor bem alto... e depois de algum tempo, pague novamente para renovar esta licença... desta forma, todos arrumam um jeitinho de garfar sua parte e EXPLORAR o ecoturismo (e explorar os ecotrouxas também - categoria na qual me enquadro).

Muitos turistas que frequentam o lugar acham que esta cobrança é normal e que isso é necessário para preservar o meio ambiente (turistas que, aliás, se divertem fotografando orelhões em forma de bicho no centro da cidade... não preciso dizer mais nada...). Isso é mentira! Não existe justificativa para tamanha exploração... muitas outras áreas de preservação são tão bem cuidadas quanto esta (ou até melhor) e ninguém tem que pagar tão caro por isso. Seria muito mais correto desapropriar tudo e criar um parque nacional de verdade.  

Este é o motivo de minha insatisfação, senti a dor das facadas em meu peito...  “exploração do ecoturismo” pra mim tem outra conotação. Eles levam esta frase ao pé da letra.

Segundo me disseram, Bonito é o segundo destino turístico mais caro do Brasil, perdendo apenas para Fernando de Noronha. Eu discordo, em Bonito é preciso pagar até pra frequentar o balneário municipal... não existe justificativa para as coisas serem tão caras. Em Noronha há um enorme custo para que tudo chegue até a ilha e também para que saia dela... até os resíduos devem ser trazidos de volta para o continente.. há escassez de água doce, energia elétrica, etc. Portanto, Bonito é mais caro.

Depois de tanta revolta, o jeito foi enfiar o rabo entre as pernas, relaxar e curtir um pouco. E mais uma vez fazendo uso de frases clássicas: se o estupro é inevitável...

Foto: Edmilson Sanches
Ficamos no camping do Rio Formoso. Ao chegarmos, fomos muito bem recebidos por sua dona, a Margarida. Ela era realmente uma flor! Mas com espinhos!! rsrs.. muito simpática, mas quando tentava colocar ordem no recinto, era um general (pior que nem isso adiantava)... Lá podíamos tomar banho de rio sem pagar nada... um alívio e tanto pras horas de descanso (e pro bolso, certamente). Mas o camping tinha um sério problema: o público que o frequentava, que só queria saber de música sertaneja e churrasco...A comilança era tão grande que teve um grupo que apareceu por lá com um freezer horizontal! Isso mesmo, um freezer - daqueles de bar - num camping! Ou será que tinha um corpo dentro?!... (acabei de me lembrar das cenas do filme Volver de Almodóvar... a personagem enterra o corpo de seu marido - que está dentro de um freezer - às margens de um rio!! Eu hein!!).

Depois de uns dias, o que já era ruim ficou ainda pior, além de ouvir música sertaneja, fui obrigada a ouvir pagode, pancadão e todos os outros tipos de música ruim existentes na face da Terra... uma enxurrada de mau gosto em uma batalha incessante de som automotivo.. Em alguns momentos a situação ficou insuportável... Fiquei alguns dias em choque, toda vez que escutava sertanejo universitário começava a tremer! Michel Teló, Luan Santana, Fernando e Sorocaba... Socorro!! Entre todas estas músicas que escutei, teve uma que achei engraçada e não consegui esquecer... não sei de quem é, mas a letra é assim:

“Casa liberada, os véi tão viajando, meia noite e meia e o bicho tá pegando... Casa liberada, não tem regra aqui agora, quem tiver achando ruim VESTE A ROUPA E VAI EMBORA”!
... hahaha.. que idiotice!

E só pra finalizar o assunto camping, não posso deixar de dizer que muitas das pessoas que acamparam foram embora e largaram um monte de lixo no chão.. passei boa parte do meu dia recolhendo sujeira dos outros porque não suporto imundice e falta de educação. Preciso dizer mais algum motivo pra não ter gostado de ficar lá???

Com as atrações custando os olhos da cara, tivemos que escolher quais visitar, não seria possível visitar todas, embora tivéssemos tempo pra isso. Sendo assim, escolhemos fazer nos primeiros dias as atrações mais famosas e concorridas.

1º dia: Gruta do Lago Azul

Passei boa parte da minha vida imaginando como seria a tal gruta do lago azul... me decepcionei um pouco, a única coisa que pude observar e constatar foi a de que o lago é, de fato, azul. Ponto. Nada mais que isso... não me impressionou, não é possível se aproximar do lago, as formações calcárias são comuns e não há muito que se explorar... toda visitação dura pouco mais de meia hora.

2º dia: Flutuação no Rio da Prata

Em plena época da piracema, o rio não tinha a quantidade de peixes que eu costumava ver nas fotografias, mas ainda assim, flutuar em meio aos peixes em uma água incrivelmente cristalina foi interessante. 
Claro que de início achei uma exploração pagar R$ 140,00 para entrar num rio. Mas após ver toda logística da operação, acho que entre outros passeios de Bonito, este nem saiu tão caro assim. Não vou detalhar o que se passou por lá, não vale a pena. Pra dizer a verdade, a estrutura que envolve a visitação às atrações é muito igual, se repete o tempo todo: recepção com sofás, redes e cadeiras confortáveis, piscina, restaurante e decks de madeira para os turistas não colocarem seus pezinhos na lama...

3º dia: Sei lá, não lembro o que fiz no terceiro dia!!! Nem sei porque estou escrevendo esta estupidez de dia a dia. Parece até um daqueles roteiros de turismo caretas da CVC. Chega disso... melhor voltar ao meu bom e velho estilo.

Tudo em Bonito é muito cheio de frescura. Pra visitar qualquer ponto de interesse é preciso comprar os vouchers em alguma agência. Os preços dos passeios são tabelados e a prefeitura recolhe imposto sobre todos eles.

Quando decidimos ir pra Bonito, imaginávamos que poderíamos fazer, também, trilhas no parque da Serra da Bodoquena... não fazíamos ideia de que o parque não existia (na prática, claro), e muito menos de que não existiam trilhas para serem feitas. Bonito é muito mais um local para a prática da preguiça do que de atividades... a maioria dos vídeos que assisti falando sobre as atrações frisava muito mais a infraestrutura, o conforto e o restaurante do que os atrativos naturais em si. E como eu já disse, todas pareciam iguais neste sentido.

Descobrimos então que uma das agências realizava um passeio lá pros lados da tal Serra... passeio que nenhuma outra agência fazia. Eles intitularam o roteiro de “programa de índio”.
As outras agências diziam que este era um passeio irregular por não ter a licença de funcionamento que todos os demais tinham. Mas esta área tratava-se de uma propriedade indígena... e como em propriedade indígena ninguém “mete o bedelho”, eles não precisavam necessariamente de licença dos órgãos governamentais para liberar a entrada de pessoas na propriedade (deve ser mais ou menos isso). Então marcamos para o dia 28/12/2010 este que achávamos que seria o melhor entre todos os passeios (eu disse que não ia me ater a datas, mas esta, não tem como eu esquecer...).

Gruta São Miguel
Antes disso, já tínhamos feito (ou agendado) todos os passeios que nos propusemos a fazer, exceto um, o Abismo Anhumas... eu não sabia se faria ou não porque o valor era muito alto. Mas percebi que perder a chance de fazer rapel e mergulho autônomo em um só lugar seria imperdível. Como demorei pra decidir, só consegui vaga para o dia 03/01. Eu queria ir embora antes, seria uma tortura ter que esperar tanto tempo, mas não tinha outra solução, eu sabia que me arrependeria se deixasse de visitar este lugar. 


Fomos até visitar o tal “Projeto Jibóia”, que é a maior picaretagem... sem comentários. Qualquer um arruma um jeito fácil de ganhar dinheiro nesta cidade... impressionante.


Aquidaban (ou seria Aquidabelha?!)


No dia 28 acordamos por volta das 5:00, nos preparamos, tomamos café e seguimos para a agência. Tudo começou muito bem. O grupo tinha cerca de 15 pessoas. Saímos em 4 carros, rumo a Porto Murtinho, município em que está localizada a aldeia e a cachoeira Aquidaban, nosso destino.
Percorremos sessenta e poucos quilômetros de estrada de terra... chegando na aldeia fomos muito bem recebidos por Seu Zé e sua família: mulher, filhos, gatos e muitos cachorros... Seu Zé, o índio, nos contou sobre a primeira vez que turistas visitaram a cachoeira há mais de 40 anos... ele disse que tentou expulsá-los da reserva com arco e fecha na mão... após muita conversa com o guia local que levava o grupo de turistas estrangeiros, ele se convenceu de que poderia levar alguma vantagem nisso. Hoje ele diz que graças ao turismo, conseguiu uma vida mais confortável. Demos muita risada com a história, a forma como ele narrou foi extremamente envolvente.

Estava tudo perfeito até então.

Iniciamos a trilha de 5km até a cachoeira, durante o percurso existiam outros poços para banho, lugares bem agradáveis de água cristalina. O grupo todo estava na mesma vibração, todos curtindo a caminhada, entrando na água e se divertindo... que alívio para os dias de turismo com caminhada sobre os decks de madeira...

O índio nos acompanhou na trilha até chegar em sua segunda casa, cerca de 1km antes da cachoeira. Ele decidiu ficar por lá para cuidar do terreno, carpir o mato enquanto nos seguíamos adiante.

Chegando na base na cachoeira, ainda paramos para mais um banho antes de iniciarmos a subida, cerca de 200m íngremes... tranquilo... mas a cachoeira estava sem água, não parecia em nada com a bela Aquidaban que nos venderam! Dizem que os fazendeiros da parte alta estão desviando o curso d’água (eu não duvido)... mas ainda assim estava valendo...

Topo da Aquidaban, o início do ataque!
Na subida para o topo da cachoeira, o guia toma a dianteira, eu estava logo atrás. Cerca de 5 metros antes de alcançarmos o topo, o guia é atacado por marimbondos... ele decide então mudar o caminho, dando uma volta por trás da trilha habitual... Foi pior, logo de cara eu não entendi o que estava acontecendo, como eu estava mais à frente não percebi que abelhas enfurecidas começaram a atacar o grupo. Eu já estava no topo, e tive até tempo de fazer uma fotografia (a única de todo grupo, por sinal). Quando percebi o ataque, imediatamente coloquei uma blusa de manga comprida e fiquei quieta... eu ainda não tinha levado nenhuma ferroada... até que o guia teve a brilhante ideia de dizer: “Acho que está tranquilo agora, melhor nós tentarmos descer”. Eu cai nesta conversa mole e mais uma vez, Madureira e eu tomamos a dianteira e entramos na trilha. Por que?? Por que??? Pra quê??!!!!

Pausa. Estou ficando cansada e tonta só de lembrar. Ainda sofro de estresse pós-traumático. Vou tomar um café já volto...

[duas horas depois]

Bem, continuando a história... logo que entrei na trilha recebi a primeira das inúmeras ferroadas que ainda estava por receber. Foi na mão, os braços estavam cobertos. Não tinha muito o que fazer (se correr o bicho pega, se ficar o bicho come). Não dava pra voltar pro topo, o jeito foi encarar a descida.

Foi desesperador, levei muitas ferroadas na cabeça, e em momento de desespero, tirei os óculos e o chapéu... imediatamente elas tomaram todo meu cabelo e continuaram ferroando... eu gritava, me debatia, mas ainda assim consegui manter o foco na trilha para não sair rolando ribanceira abaixo. No meio do caminho tinha uma pequena poça d'água cheia de lama. Eu enfiei a cabeça e até engoli aquela água barrenta... algumas abelhas foram afogadas, mas outras vieram para continuar o ataque. Nesta hora foi engraçado, o zumbido ensurdecedor foi diminuindo quando enfiei a cabeça na água.. haha.. parecia as que pilhas Duracell das bichinhas estavam acabando...

A primeira poça ajudou, mas não resolveu.. continuamos a descida até encontrarmos um dos poços da cachoeira. Nesta hora me senti em um filme de comédia, apesar da dor insuportável que estava sentindo, pulei na água com roupa e sapato... e quando eu subia para respirar, lá estavam as abelhinhas esperando, rondando a minha cabeça.. eu não sabia se ria, ou se chorava...

Apenas nós dois chegamos a este poço.. o guia estava logo atrás e tentava enfrentar as abelhas para resgatar o restante do grupo. Ficamos algum tempo dentro do poço até que as abelhas se acalmassem. Eu disse ao guia que continuaria a descida e ia procurar ajuda, mas não tínhamos sinal de telefone nem de rádio... o telefone fixo mais próximo estava cerca de 20km de lá. Ele pediu que esperássemos na base da cachoeira. Assim o fizemos, até não aguentar mais a espera.. fomos procurar o índio, ele certamente daria um jeito naquela situação. O encontramos em sua casa cuidando do jardim. Antes de subir para resgatar os demais integrantes do grupo (por um caminho alternativo), Seu Zé ainda teve tempo de fazer uma reza para nos aliviar a dor... tudo bem que índio era evangélico (pois é, Padre Anchieta...).. mas foi uma experiência marcante.

Logo na sequência, também desgarrados do grupo, apareceu o casal de cariocas... eles chegaram com as roupas todas rasgadas, foram descendo a ribanceira desesperados e quase rolando, pularam num poço de uma altura absurda sem saber a profundidade e se existiam pedras no local... não sei como não aconteceu nenhum acidente mais grave.

Eu sinceramente estava mais preocupada com uma pessoa do grupo que se dizia alérgica do que comigo. Aquela quantidade de ferroadas seria capaz de matar uma pessoa alérgica em poucos segundos, e nós, que estávamos lá embaixo, não sabíamos como os outros estavam... foi um momento meio tenso, mas Seu Zé conseguiu retornar com todos, aparentemente sãos e salvos. Mas não por muito tempo...

Antes mesmo de chegar à casa que ficava próxima da cachoeira, este garoto alérgico começa a vomitar muito... eu insistia que tínhamos que sair de lá o mais breve possível e que todos, sem exceção, deveriam procurar o hospital..

Este garoto e sua namorada ficaram na casa, e nós pegamos a trilha para chegar até os carros. Para resgatá-los, o índio tinha como abrir a porteira da fazendo ao lado para um dos carros entrar, e ao invés do casal andar os 4km que ainda restavam, teria que andar apenas 1km.

O guia certamente viveu um de seus piores dias.. estava com o joelho ruim e ficou três dias sem trabalhar para poder fazer esta trilha.. seu calçado arrebentou.. teve que andar descalço, levou a maior quantidade de picadas.. enfim.. um dia que ele certamente não esquecerá também.

No meio do caminho fui entregando os pontos. Fui reduzindo a velocidade, as outras pessoas do grupo foram me ultrapassando... fui perdendo as forças... o estômago começou a doer...e..... comecei a vomitar muito também. Foi tão ruim quanto marear (ou até pior)... parecia que meus órgãos iam sair pela boca. Não sei se já me senti tão mal assim em algum outro momento da minha vida... acho que não. Foi bem difícil completar a trilha e chegar ao carro. E mesmo assim, ainda estávamos muito longe da cidade, e consequentemente, do hospital.

O grupo se separou, foi um “salve-se quem puder”, mas no final acabamos nos encontrando... até onde sei, ninguém morreu!

No hospital, despertamos a curiosidade do povo local que queria saber o que aquele bando de turistas idiotas tinha aprontado. Demorei pra ser atendida (SUS). Fiquei conversando com uma mulher enquanto esperava atendimento. Ela, indignada, me perguntou: “Mas com tanta coisa bonita pra ver aqui, o que vocês foram fazer naquele fim de mundo no meio do mato?!!”. Eu respondi: “Exatamente por isso, porque é um fim de mundo no meio do mato”. 

Tomei uma injeção (mais uma picada dolorida!) e soro na veia. A sala de repouso não tinha ar-condicionado, só um ventilador velho e barulhento. Entrei em desespero, suando, pressão baixa, morrendo de calor... dor na cabeça por causa das picadas, dor na bunda por causa da injeção.. uma agulha enfiada no meu braço por causa do soro... aquele foi um dos piores momentos do dia... Mas logo a medição fez efeito e dormi por algumas horas.

E eu que havia dito que Bonito não tinha aventura!!! Essa foi a maior aventura de toda minha vida! Certamente! Pior que nem posso processar a agência, eles não mentiram quando nos venderam o "Programa de índio"... cumpriram com o prometido.

No dia seguinte eu achava que ia acordar inteira inchada.. que nada. Estava normal. E como já estava agendada a flutuação no Aquário Natural, mantivemos a agenda do dia. A flutuação durou pouco tempo, apenas 800m. Senti muito frio. No final da tarde eu já não estava tão bem como no início do dia... provavelmente o efeito da medicação tinha passado... fui ficando indisposta, enjoada... na manha seguinte aconteceu o que achei que aconteceria antes.. acordei toda inchada, resfriada, com dor no corpo inteiro.
Dias de molho, doente. Por sorte eu não consegui marcar a visita ao Abismo Anhumas para o dia que eu queria... se tivesse marcado, eu não conseguiria mergulhar, meus ouvidos estavam entupidos. Nesses dias, eu só pensava em me recuperar para o mergulho. Não fiz nada que pudesse prejudicar minha saúde, a garrafa de tequila que compramos estava intacta...

Mel: moradora do Balneário Municipal
Do dia das abelhas, até o dia do Abismo, ficamos perambulando pela cidade sem nada pra fazer. Como eu disse antes, tudo paga... não é como ir à praia sentar na areia, contemplar a natureza e deixar o tempo passar. Não... lá todo e qualquer balneário é pago: R$20,00.. R$25,00... R$30,00... e como eu não podia beber... nem a opção “passar o tempo no boteco” teve chance. Não aguentávamos mais ficar naquele camping barulhento e com falta de água no banheiro... 

Piraputanga
Experimentei alguns pratos típicos, entre eles jacaré e Piraputanga. A Piraputanga é o peixe mais abundante na região (esse que adora sair em todas as fotografias). Do jacaré eu não gostei, tem gosto de frango frito na gordura de peixe (a mesma coisa que as batatas fritas em quiosques de praia, elas sempre vem com um leve aroma de camarão!). Já a Piraputanga é uma delícia! Comi assada, mas preferi crua mesmo, em sashimi... costumam chamá-la de salmão do pantanal.

Finalmente dia 03/01 chegou.. não sei se minha ansiedade era maior porque eu faria o tão esperado mergulho, ou se era porque tinha chegado o dia de partir.

Abismo Anhumas

É a atração mais cara de Bonito. Mas depois de tanto pagar por coisas que não valiam tanto, achei que não podia sair de lá sem conhecer. E não me arrependi.

Na noite que antecedeu o passeio eu quase não dormi porque meu colchão inflável furou... além do desconforto, passei o maior frio. Queria muito estar descansada, afinal, teria que encarar um rapel de 72m de altura para chegar ao lago, depois mergulhar, enfim... não teve jeito, mas o cansaço logo passou quando a operação descida foi iniciada.

Experiência indescritível, algo muito diferente de tudo que eu já tinha visto e sentido mergulhando... não me impressionei tanto com as formações calcárias (que são muito mais abundantes na região do Petar em SP), mas vê-las sob a água cristalina foi algo totalmente novo. Mais interessante ainda foi a sensação que tive por estar num lençol freático... água fria, densidade muito diferente, ausência de correnteza, de refluxo...


Todo o conjunto torna este lugar um dos mais incríveis onde já estive.


Ok, isso que acabo de dizer contradiz outras coisas que escrevi no decorrer deste texto. Sim, sou mesmo um ser contraditório... mas neste caso cabe uma justificativa: é difícil explicar como me sinto, Bonito me causou amor e ódio... quando digo que não vale o que custa, não é porque as atrações naturais não são belas, sim, são muito belas... mas toda essa interferência humana me deixou decepcionada, toda essa super-exploração faz o turista desavisado pensar que essa é a única alternativa para desfrutar dos prazeres da natureza... mas existem muitos outros lugares bonitos e preservados mundo afora, que não tem esse valor agregado... em Bonito criou-se a mística de que “este é o preço que se paga para que o local esteja preservado”. E como eu já disse anteriormente, discordo. Criou-se uma forma de seleção e limitação às visitas por um único fator de exclusão: o fator do poder aquisitivo, o que pra mim é uma discriminação social. Nem mesmo os próprios moradores da cidade conhecem as atrações, até deles valores exorbitantes são cobrados (com exceção do balneário municipal). Nada justifica que nem seus próprios habitantes tenham acesso ao chamado paraíso, portanto, não posso considerar esta cidade como tal, já que o verdadeiro paraíso - na minha concepção, obviamente - só existe quando há uma perfeita integração entre homem e natureza.

***

De volta ao camping... vamo embora!!!!! Na saída, Margarida ainda fala: “Ah... já?! ... fiquem só mais uma noite...”. 


O verdadeiro paraíso

Pegamos a estrada rumo a Ponta Porã, cidade sulmatogrossese que faz divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Objetivo? Depois de tanto ouvir a palavra Ecoturismo, decidimos colocar em prática outra atividade com o sufixo ISMO:

Consumismo.

Em Ponta Porã, foram três dias hospedados com relativo conforto... TV, frigobar, wi-fi e um bom chuveiro (água sem calcário, felizmente, meu cabelo estava parecendo uma vassoura de bruxa!). Liguei a TV para assistir ao noticiário local, não demorou muito pra eu me chocar com uma noticia sobre um ataque de abelhas com vitimas fatais... pensei: “nossa... não sei como nos livramos dessa!”.

Ao contrário de Ciudad de Este, Pedro Juan não tem fronteira, basta atravessar a avenida e pronto, chegou... Cidade muito mais tranquila e ainda por cima existem lugares específicos para comprar produtos de boa procedência. Recomendo três shoppings: West Graden, Studio Center e o maior shopping de importados da América Latina, o Shopping China

Bebidas, perfumes, bolsas, óculos, eletrônicos, artigos de informática... tudo muito mais barato do que costumamos pagar no Brasil. Simplesmente o PARAÍSO das compras...

Felizes com as compras realizadas!! Pegamos a estrada. Dormimos uma noite em Presidente Epitácio, já no estado de SP. 
Foi ai que descobri que oeste paulista tem praias... sim, tem mesmo! Praias do Rio Paraná. Lugar bem agradável... apesar de quente. Rodamos mais setecentos e poucos quilômetros para chegar em casa.




***

Por um bom tempo ainda senti os efeitos do veneno das abelhas em meu corpo.. ainda sinto, pra dizer a verdade.

Depois de tudo que eu disse, se alguém me perguntasse se pretendo voltar para Bonito eu certamente responderia:

Sim, claro! Para mergulhar nas cavernas! Dizem que duas cavernas submersas serão reabertas para visitação: Gruta do Mimoso e a Lagoa Misteriosa. Mas para mergulhar nestas cavernas é necessário ter uma certificação que não tenho e estou bem longe de conseguir, portanto, acho que ainda vai demorar um bocado pra eu voltar...

Mas, para quem não tem nenhuma intenção de mergulhar em cavernas e só quer ver os peixinhos num rio cristalino e Gruta com Lago Azul, eu recomendaria o seguinte:

Vá para Nobres-MT... que como a própria propaganda da cidade diz...

“Nobres é mais que Bonito, é LINDO!!”


... brincadeiras à parte, vale a pena assistir a este belo vídeo realizado pelo pessoal de Bonito, mostra muito bem os encantos do Abismo Anhumas:



terça-feira, 28 de setembro de 2010

A viagem que mudou minha vida

Pode até soar estranho dizer que uma viagem mudou minha vida. Mas de fato, algumas experiências  abriram a minha mente de uma forma inimaginável.

Foi em junho de 2007. Finalmente, após muitos anos trabalhando como freelancer -  ganhando por hora, sem direito a férias, décimo terceiro, etc. - consegui alguns direitos na empresa em que eu trabalhava. Fui promovida da categoria “bico” para “assalariada sem registro”. Já era alguma coisa. Pelo menos passei a ter direito a férias remuneradas.

Como eu já tinha usado quinze dos meus trinta dias de férias no final de 2006, restaram mais quinze pra eu aproveitar no meio do ano. Passei então a planejar uma viagem que há tempos eu queria fazer. Destino? Pernambuco. Desta vez eu viajaria sozinha, tinha total liberdade para escolher o roteiro.

Resolvi comprar passagens para Recife. Já com as passagens compradas pensei: “Já que estarei tão perto, acho que vale a pena gastar um pouco mais e ir também para Fernando de Noronha”.

Comprei então novas passagens, de Recife pra Noronha. Consegui um preço promocional após muita insistência, verificando varias vezes por dia as tarifas no site da Varig.

Planejei tudo muito bem para que não acontecessem imprevistos.

Fiz a carteirinha do Hostelling International para me hospedar em albergues.

Tracei um roteiro e o segui rigorosamente.

Meu maior desafio seria encarar todos esses dias sozinha sem entrar em crise. A última vez que tinha tentado fazer isso não aguentei... estava em Florianópolis em uma praia maravilhosa e voltei correndo pra São Paulo, pela primeira (e última) vez passei a virada do ano na Avenida Paulista (visão do inferno, por sinal! Mas isso não vem ao caso agora...).

Cheguei em Recife no final da tarde de um sábado. Fui direto para o albergue de Olinda, onde eu tinha feito reserva. Passei uma noite lá esperando o voo do dia seguinte para Noronha.

Fiquei em um quarto coletivo, mas nele só estava mais uma garota, também paulista. Praticamente não tivemos contato. Naquela noite bateu uma sensação horrível. Fiquei meio depressiva. Comecei a me lembrar do que tinha acontecido em Florianópolis e achei que eu pudesse jogar tudo pro alto outra vez.  Sozinha e perdida no mundo... Depois de algumas horas nessa agonia, consegui dormir. Na manhã seguinte voltei para o aeroporto e embarquei para Noronha.

Por que eu me senti assim? Eu estava em um momento de muita indecisão. Estava buscando, nesses dias de afastamento, algumas respostas que eu não conseguia encontrar vivendo a minha rotina. A maior dessas dúvidas era sobre meu trabalho. Embora eu tivesse conquistado algumas coisas, ainda me sentia injustiçada por não ter alguns direitos. Anos e anos no mesmo lugar esperando um reconhecimento que chegou muito tarde. Fiquei com medo de, mesmo me afastando, não encontrar as respostas que procurava.

Fernando de Noronha

Ao chegar em Noronha foi como se eu estivesse em um sonho, esqueci completamente de tudo que eu havia sentido na noite anterior.
Chovia. No primeiro dia não sobrou muito tempo. Peguei a câmera fotográfica e fui até o forte dos Remédios. Não era o melhor dia para ver a paisagem, já que o céu estava encoberto. Mas ainda assim, avistar o morro do Pico com os Dois Irmãos ao fundo foi sensacional.

Fiquei hospedada na Pousada Nativa. Após enviar diversos e-mails fazendo cotação de preços, esta foi a única pousada que me cobrou tarifa menor por eu estar sozinha. Todas as outras queriam cobrar um valor equivalente à ocupação de duas pessoas. 

No dia seguinte, acordei mais tarde do que o planejado, esqueci que a ilha tem fuso horário com uma hora a mais que Recife. Já não dava mais tempo de fazer o passeio de barco para ver os golfinhos naquele dia. Então, saí andando sem rumo pelas ruas da Vila dos Remédios até encontrar a loja da operadora de mergulho Noronha Divers. Decidi, enfim, fazer um discovery (batismo). 

Para esperar o horário do mergulho, desci até a praia da Conceição e fiquei bebendo em um quiosque.

Nestas “paradas para beber” conheci algumas figuras bem interessantes que me contaram diversas histórias incríveis sobre a ilha.. como o assalto ao banco Real... outros assaltantes malucos que roubaram uma lancha e tiveram que ser resgatados no mar quando acabou o combustível... histórias de fantasmas... de moradores ilustres, etc.

Fui então fazer o primeiro mergulho autônomo de minha vida. Um pouco antes eu tinha escorregado no asfalto e machucado o joelho. Fui para o barco sangrando. No barco estavam duas senhoras cariocas que ficaram preocupadas, com medo de que tubarões pudessem me morder por causa do sangue.. hahaha.. foi ótimo... chegaram até a dizer pra elas: “Não tem problema, os tubarões daqui são vegetarianos”.. haha.. só faltava essa!
E não é que elas tinham uma certa razão?! Pra minha sorte, de todos os turistas, fui a única que viu tubarão naquele mergulho. Nunca vou esquecer da emoção que senti. Sempre fui fascinada por tubarões, desde criança... com uns três anos de idade eu prendi o dedo nos dentes de um pequeno tubarão empalhado no museu do mar em Santos... a minha curiosidade de tocá-lo era tanta que nem me importei com os dentinhos afiados!

Mergulhei com um tubarão Lixa, com cerca de um metro e pouco. O  bicho estava escondido em uma caverninha, quando nos aproximamos ele saiu nadando, e nós (eu estava acompanhada do Divemaster local) nadamos atrás dele por alguns segundos, até não podermos mais alcançá-lo. Lindo demais! Emocionante! Em minha primeira experiência de mergulho tive o enorme privilégio de ver animais maravilhosos em águas límpidas e quentes... simplesmente perfeito.

Descobri ali uma nova paixão (ou amor?): mergulho autônomo. Até então eu fazia apenas mergulho livre... que também pratiquei bastante por lá. Nestes mergulhos pude observar tartarugas, arraias, outra espécie de tubarão (bico fino) e diferentes espécies de peixes que eu não conhecia. 

Fiz outros passeios turísticos pela ilha... Praia do Sancho, baía dos Porcos, Praia do Leão, baía do Sueste, trilha do Atalaia... mirante dos Dois Irmãos, mirante do Forte do Boldró, Forte dos Remédios... Museu do tubarão... passeio de barco para ver os golfinhos rotadores... e mais alguns lugares dos quais não lembro mais.


Sem muito dinheiro, o jeito foi me virar comendo lanchinhos e outras porcarias... comprava pão de forma e frios no supermercado (não sei por que, mas acho que eu já contei essa história antes!). Tudo na ilha é muito caro, comida, hospedagem, passeios... tudo.

Todos os dias foram maravilhosos... foi delicioso ficar descansando na rede... ficar no bar jogando conversa fora... ficar perdida no tempo e no espaço sem preocupação alguma... 
Em uma das conversas de bar, alguém disse ter largado emprego estável, carreira e faculdade pra trabalhar na ilha. Confesso que isso veio muito a calhar... ouvir esse tipo de depoimento ajudou a sanar uma parte daquelas duvidas que eu tinha sobre a minha própria vida...

Olinda e Recife

Marco Zero - Recife-PE
Cinco dias em Noronha. Pouco. Muito pouco. Me arrependi de não ter planejado ficar mais dias. Mas não tinha mais como voltar atrás, meu roteiro estava traçado e Olinda estava a minha espera.

Em Olinda, fui muito bem recebida. Logo que cheguei encontrei um senhor que me levou para conhecer um ateliê onde também aconteciam cantorias, danças, etc. Até hoje recebo e-mails da programação dos eventos (morro de vontade de ir!). Olinda é uma cidade encantadora onde se respira arte, se vive de arte... onde se come muito bem, onde se bebe muito bem, e consequentemente, onde é possível se divertir muito bem!

Voltei ao albergue. Logo na primeira noite conheci um paulista do meu bairro (dá pra acreditar! mundinho pequeno!). E desta vez minha companheira de quarto era uma suíça. Saímos os três para beber aquela noite. No dia seguinte o paulista foi embora para o “São João” de Caruaru e a suíça foi pra Porto de Galinhas, onde nos encontraríamos dias depois.

Sozinha novamente, minha diversão diurna era pegar ônibus e ficar perambulando pelas ruas de Recife. Quando escurecia, eu voltava para Olinda e ia para o “bar do Velho”, onde sempre tinha muita gente e trios de forró tocavam a noite toda.

Nestes dias eu queria mesmo viver a vida urbana e cultural de Recife, andei pelo centro da cidade, visitei museus, bati altos papos com os cobradores dos coletivos que peguei... pude sentir um pouco de “casa” naqueles dias. Mas com a diferença de que era época de festas juninas, e lá eles levam isso muito, muito a sério. Em todos os cantos da cidade tocavam músicas juninas... bandeirinhas e balões espalhados por todo canto... uma programação cultural extensa durante o mês todo. Que delicia! Eu adoro festas juninas! No dia de São João eles têm a tradição de acender uma fogueira na porta de casa. É praticamente sagrado. Incrível.
 
Em meu penúltimo dia na cidade aconteceu, enfim, o que todos me alertaram pra que eu tomasse cuidado. Desde o primeiro dia que cheguei em Recife tive vontade de fazer uma fotografia de casarões antigos refletindo num canal sujo (quase como os prédios refletindo no Rio Pinheiros). O cheiro era ruim, mas a foto certamente ficaria ótima! Decidi fazer a foto, ao atravessar a rua, antes mesmo que eu pensasse em tirar a câmera da bolsa, fui encurralada por dois pivetes que me assaltaram com um pedaço de tijolo (sim, é bizarro!). Logo de inicio eu não entendi o que eles queriam, até que fazendo um esforço percebi que eles só queriam meu celular.. Entreguei o celular e um deles ainda reclamou do modelo.. hahaha.. era um celular bem vagabundo. Conclusão: fiquei sem meu despertador... minha operadora nem tinha sinal na cidade... só usei o celular como relógio, nem me preocupei em fazer o bloqueio imediatamente. Por sorte, não perdi a câmera, mas não consegui fazer a bendita foto! Em todos os meus anos de vida eu nunca tinha sido assaltada, nem mesmo vivendo em São Paulo, mas, como gosto de viver intensamente as experiências dos lugares para onde vou, até isso foi interessante do ponto de vista antropológico... hahahahaha

Porto de Galinhas - Ipojuca

Depois destas “emoções” em Olinda e Recife, peguei um ônibus para Porto de Galinhas. Fiquei hospedada no albergue local. Dividindo o quarto comigo, estava a mesma garota de Olinda. Mas lá pude conhecer umas garotas de Curitiba que estavam em outro quarto.

Em porto de Galinhas peguei maré cheia e chuva todos os dias. Não foi possível fazer o tradicional passeio de jangada pelas piscinas naturais. Elas simplesmente desapareceram. Não tinha muito o que se fazer por lá com chuva. Então eu passava a maior parte do tempo no bar (essa história também é repetida!) com as garotas do albergue e eventualmente com outras pessoas que estavam lá para um congresso não sei do quê. 

Fizemos um passeio de jipe para o pontal do Maracaípe debaixo de chuva. Mas pelo menos deu pra pousar de bacana na foto quando o sol deu as caras e a chuva uma pequena trégua!

Fiz mais um mergulho autônomo. Outro discovery, já que eu ainda não era mergulhadora credenciada. Foi muito mal sucedido. Visibilidade muito reduzida. Eu não tinha experiência e ainda por cima tive problemas com falhas no equipamento, que pelo jeito não tinha manutenção alguma. Acabei abortando o mergulho na metade, não tinha condições de continuar naquela situação. Foi uma experiência ruim, bastante tensa.


Em Porto de Galinhas, aproveitei mais o que a vila tinha a oferecer do que as praias e belezas naturais... até mesmo pelas condições climáticas. Quero muito voltar em outra época do ano para conhecer as tão famosas e cristalinas piscinas naturais. Mas mesmo assim valeu a pena, foram dias de total relaxamento e curtição.

Depois de cinco dias em Porto de Galinhas, voltei pra casa. Voltei ao trabalho também, mas não por muito tempo.

Consegui sobreviver a todos esses dias! Consegui também encontrar algumas das tais respostas que  eu procurava. Dei então inicio a uma nova fase em minha vida: pedi demissão. E embora minha fonte de renda ainda venha de um trabalho burocrático, estou tentando me profissionalizar no mergulho... para que (quem sabe um dia) eu também consiga largar a vida no caos para viver em algum dos muitos lugares paradisíacos espalhados pelo mundo.


Fico feliz por, hoje, ser uma QUASE Divemaster. Não que isso seja grande coisa, mas é um avanço. Pelo menos pude sair do lugar e dar uns passos à frente rumo a tão desejada “realização pessoal”.

Neste momento em que estou escrevendo essa história, estou revivendo um pouquinho de tudo... fiz boas amizades, conheci pessoas muito interessantes, vivi sensações intensas... descobri o quanto viajar sozinha é bom. E que não há motivo algum para entrar em pânico quando surgem as dificuldades, muito pelo contrário.

O isolamento pode ser esclarecedor...

Preciso fazer outra viagem dessas, já estou cheia de novas dúvidas! E como as dúvidas que surgem na vida são intermináveis, espero que as viagens também sejam!