Nessas férias conheci o paraíso!!
... Bonito?! Não, Bonito não!!! Estou me referindo a Pedro Juan Caballero! Mas ainda não é sobre isso que vou falar...
Bonito até pode ser interessante, mas eu não chamaria exatamente de paraíso. Pode ter muita gente que ao ler esse comentário vai achar que sou maluca, exigente demais, ou até mesmo arrogante. Pois bem, sou um pouco das três coisas que acabo de citar.
Eu simplesmente detestei o fato de ter escolhido como destino de férias um lugar que não tem muito a ver com a minha personalidade. Por que?! Vou dizer porque: não vale o que custa!! Me senti uma trouxa tendo que pagar tão caro para apreciar a natureza...
Na teoria, naquela região deveria haver um parque nacional... está no mapa! Parque Nacional da Serra da Bodoquena... mas o parque não existe, como diriam por aí “é só pra inglês ver”. Quase todas as atrações estão em propriedade particular... e como nenhum fazendeiro quer perder sua “galinha dos ovos de ouro”, estas propriedades se enquadraram nas tais RPPN (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), que são, obviamente, áreas particulares de preservação (sim, sim, de preservação do PATRIMÔNIO financeiro de seu dono, claro!!). Só que para o Ibama (e não sei mais quem) legalizar o funcionamento de uma RPPN é preciso que o dono da propriedade desembolse um valor bem alto... e depois de algum tempo, pague novamente para renovar esta licença... desta forma, todos arrumam um jeitinho de garfar sua parte e EXPLORAR o ecoturismo (e explorar os ecotrouxas também - categoria na qual me enquadro).
Muitos turistas que frequentam o lugar acham que esta cobrança é normal e que isso é necessário para preservar o meio ambiente (turistas que, aliás, se divertem fotografando orelhões em forma de bicho no centro da cidade... não preciso dizer mais nada...). Isso é mentira! Não existe justificativa para tamanha exploração... muitas outras áreas de preservação são tão bem cuidadas quanto esta (ou até melhor) e ninguém tem que pagar tão caro por isso. Seria muito mais correto desapropriar tudo e criar um parque nacional de verdade.
Este é o motivo de minha insatisfação, senti a dor das facadas em meu peito... “exploração do ecoturismo” pra mim tem outra conotação. Eles levam esta frase ao pé da letra.
Segundo me disseram, Bonito é o segundo destino turístico mais caro do Brasil, perdendo apenas para Fernando de Noronha. Eu discordo, em Bonito é preciso pagar até pra frequentar o balneário municipal... não existe justificativa para as coisas serem tão caras. Em Noronha há um enorme custo para que tudo chegue até a ilha e também para que saia dela... até os resíduos devem ser trazidos de volta para o continente.. há escassez de água doce, energia elétrica, etc. Portanto, Bonito é mais caro.
Depois de tanta revolta, o jeito foi enfiar o rabo entre as pernas, relaxar e curtir um pouco. E mais uma vez fazendo uso de frases clássicas: se o estupro é inevitável...
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Foto: Edmilson Sanches |
Ficamos no camping do Rio Formoso. Ao chegarmos, fomos muito bem recebidos por sua dona, a Margarida. Ela era realmente uma flor! Mas com espinhos!! rsrs.. muito simpática, mas quando tentava colocar ordem no recinto, era um general (pior que nem isso adiantava)... Lá podíamos tomar banho de rio sem pagar nada... um alívio e tanto pras horas de descanso (e pro bolso, certamente). Mas o camping tinha um sério problema: o público que o frequentava, que só queria saber de música sertaneja e churrasco...A comilança era tão grande que teve um grupo que apareceu por lá com um freezer horizontal! Isso mesmo, um freezer - daqueles de bar - num camping! Ou será que tinha um corpo dentro?!... (acabei de me lembrar das cenas do filme Volver de Almodóvar... a personagem enterra o corpo de seu marido - que está dentro de um freezer - às margens de um rio!! Eu hein!!).
Depois de uns dias, o que já era ruim ficou ainda pior, além de ouvir música sertaneja, fui obrigada a ouvir pagode, pancadão e todos os outros tipos de música ruim existentes na face da Terra... uma enxurrada de mau gosto em uma batalha incessante de som automotivo.. Em alguns momentos a situação ficou insuportável... Fiquei alguns dias em choque, toda vez que escutava sertanejo universitário começava a tremer! Michel Teló, Luan Santana, Fernando e Sorocaba... Socorro!! Entre todas estas músicas que escutei, teve uma que achei engraçada e não consegui esquecer... não sei de quem é, mas a letra é assim:
“Casa liberada, os véi tão viajando, meia noite e meia e o bicho tá pegando... Casa liberada, não tem regra aqui agora, quem tiver achando ruim VESTE A ROUPA E VAI EMBORA”!
... hahaha.. que idiotice!
E só pra finalizar o assunto camping, não posso deixar de dizer que muitas das pessoas que acamparam foram embora e largaram um monte de lixo no chão.. passei boa parte do meu dia recolhendo sujeira dos outros porque não suporto imundice e falta de educação. Preciso dizer mais algum motivo pra não ter gostado de ficar lá???
Com as atrações custando os olhos da cara, tivemos que escolher quais visitar, não seria possível visitar todas, embora tivéssemos tempo pra isso. Sendo assim, escolhemos fazer nos primeiros dias as atrações mais famosas e concorridas.
1º dia: Gruta do Lago Azul
Passei boa parte da minha vida imaginando como seria a tal gruta do lago azul... me decepcionei um pouco, a única coisa que pude observar e constatar foi a de que o lago é, de fato, azul. Ponto. Nada mais que isso... não me impressionou, não é possível se aproximar do lago, as formações calcárias são comuns e não há muito que se explorar... toda visitação dura pouco mais de meia hora.
2º dia: Flutuação no Rio da Prata
Em plena época da piracema, o rio não tinha a quantidade de peixes que eu costumava ver nas fotografias, mas ainda assim, flutuar em meio aos peixes em uma água incrivelmente cristalina foi interessante.
Claro que de início achei uma exploração pagar R$ 140,00 para entrar num rio. Mas após ver toda logística da operação, acho que entre outros passeios de Bonito, este nem saiu tão caro assim. Não vou detalhar o que se passou por lá, não vale a pena. Pra dizer a verdade, a estrutura que envolve a visitação às atrações é muito igual, se repete o tempo todo: recepção com sofás, redes e cadeiras confortáveis, piscina, restaurante e decks de madeira para os turistas não colocarem seus pezinhos na lama...
3º dia: Sei lá, não lembro o que fiz no terceiro dia!!! Nem sei porque estou escrevendo esta estupidez de dia a dia. Parece até um daqueles roteiros de turismo caretas da CVC. Chega disso... melhor voltar ao meu bom e velho estilo.
Tudo em Bonito é muito cheio de frescura. Pra visitar qualquer ponto de interesse é preciso comprar os vouchers em alguma agência. Os preços dos passeios são tabelados e a prefeitura recolhe imposto sobre todos eles.
Quando decidimos ir pra Bonito, imaginávamos que poderíamos fazer, também, trilhas no parque da Serra da Bodoquena... não fazíamos ideia de que o parque não existia (na prática, claro), e muito menos de que não existiam trilhas para serem feitas. Bonito é muito mais um local para a prática da preguiça do que de atividades... a maioria dos vídeos que assisti falando sobre as atrações frisava muito mais a infraestrutura, o conforto e o restaurante do que os atrativos naturais em si. E como eu já disse, todas pareciam iguais neste sentido.
Descobrimos então que uma das agências realizava um passeio lá pros lados da tal Serra... passeio que nenhuma outra agência fazia. Eles intitularam o roteiro de “programa de índio”.
As outras agências diziam que este era um passeio irregular por não ter a licença de funcionamento que todos os demais tinham. Mas esta área tratava-se de uma propriedade indígena... e como em propriedade indígena ninguém “mete o bedelho”, eles não precisavam necessariamente de licença dos órgãos governamentais para liberar a entrada de pessoas na propriedade (deve ser mais ou menos isso). Então marcamos para o dia 28/12/2010 este que achávamos que seria o melhor entre todos os passeios (eu disse que não ia me ater a datas, mas esta, não tem como eu esquecer...).
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Gruta São Miguel |
Antes disso, já tínhamos feito (ou agendado) todos os passeios que nos propusemos a fazer, exceto um, o Abismo Anhumas... eu não sabia se faria ou não porque o valor era muito alto. Mas percebi que perder a chance de fazer rapel e mergulho autônomo em um só lugar seria imperdível. Como demorei pra decidir, só consegui vaga para o dia 03/01. Eu queria ir embora antes, seria uma tortura ter que esperar tanto tempo, mas não tinha outra solução, eu sabia que me arrependeria se deixasse de visitar este lugar.
Fomos até visitar o tal “Projeto Jibóia”, que é a maior picaretagem... sem comentários. Qualquer um arruma um jeito fácil de ganhar dinheiro nesta cidade... impressionante.
Aquidaban (ou seria Aquidabelha?!)
No dia 28 acordamos por volta das 5:00, nos preparamos, tomamos café e seguimos para a agência. Tudo começou muito bem. O grupo tinha cerca de 15 pessoas. Saímos em 4 carros, rumo a Porto Murtinho, município em que está localizada a aldeia e a cachoeira Aquidaban, nosso destino.
Percorremos sessenta e poucos quilômetros de estrada de terra... chegando na aldeia fomos muito bem recebidos por Seu Zé e sua família: mulher, filhos, gatos e muitos cachorros... Seu Zé, o índio, nos contou sobre a primeira vez que turistas visitaram a cachoeira há mais de 40 anos... ele disse que tentou expulsá-los da reserva com arco e fecha na mão... após muita conversa com o guia local que levava o grupo de turistas estrangeiros, ele se convenceu de que poderia levar alguma vantagem nisso. Hoje ele diz que graças ao turismo, conseguiu uma vida mais confortável. Demos muita risada com a história, a forma como ele narrou foi extremamente envolvente.
Estava tudo perfeito até então.
Iniciamos a trilha de 5km até a cachoeira, durante o percurso existiam outros poços para banho, lugares bem agradáveis de água cristalina. O grupo todo estava na mesma vibração, todos curtindo a caminhada, entrando na água e se divertindo... que alívio para os dias de turismo com caminhada sobre os decks de madeira...
O índio nos acompanhou na trilha até chegar em sua segunda casa, cerca de 1km antes da cachoeira. Ele decidiu ficar por lá para cuidar do terreno, carpir o mato enquanto nos seguíamos adiante.
Chegando na base na cachoeira, ainda paramos para mais um banho antes de iniciarmos a subida, cerca de 200m íngremes... tranquilo... mas a cachoeira estava sem água, não parecia em nada com a bela Aquidaban que nos venderam! Dizem que os fazendeiros da parte alta estão desviando o curso d’água (eu não duvido)... mas ainda assim estava valendo...
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Topo da Aquidaban, o início do ataque! |
Na subida para o topo da cachoeira, o guia toma a dianteira, eu estava logo atrás. Cerca de 5 metros antes de alcançarmos o topo, o guia é atacado por marimbondos... ele decide então mudar o caminho, dando uma volta por trás da trilha habitual... Foi pior, logo de cara eu não entendi o que estava acontecendo, como eu estava mais à frente não percebi que abelhas enfurecidas começaram a atacar o grupo. Eu já estava no topo, e tive até tempo de fazer uma fotografia (a única de todo grupo, por sinal). Quando percebi o ataque, imediatamente coloquei uma blusa de manga comprida e fiquei quieta... eu ainda não tinha levado nenhuma ferroada... até que o guia teve a brilhante ideia de dizer: “Acho que está tranquilo agora, melhor nós tentarmos descer”. Eu cai nesta conversa mole e mais uma vez, Madureira e eu tomamos a dianteira e entramos na trilha. Por que?? Por que??? Pra quê??!!!!
Pausa. Estou ficando cansada e tonta só de lembrar. Ainda sofro de estresse pós-traumático. Vou tomar um café já volto...
[duas horas depois]
Bem, continuando a história... logo que entrei na trilha recebi a primeira das inúmeras ferroadas que ainda estava por receber. Foi na mão, os braços estavam cobertos. Não tinha muito o que fazer (se correr o bicho pega, se ficar o bicho come). Não dava pra voltar pro topo, o jeito foi encarar a descida.
Foi desesperador, levei muitas ferroadas na cabeça, e em momento de desespero, tirei os óculos e o chapéu... imediatamente elas tomaram todo meu cabelo e continuaram ferroando... eu gritava, me debatia, mas ainda assim consegui manter o foco na trilha para não sair rolando ribanceira abaixo. No meio do caminho tinha uma pequena poça d'água cheia de lama. Eu enfiei a cabeça e até engoli aquela água barrenta... algumas abelhas foram afogadas, mas outras vieram para continuar o ataque. Nesta hora foi engraçado, o zumbido ensurdecedor foi diminuindo quando enfiei a cabeça na água.. haha.. parecia as que pilhas Duracell das bichinhas estavam acabando...
A primeira poça ajudou, mas não resolveu.. continuamos a descida até encontrarmos um dos poços da cachoeira. Nesta hora me senti em um filme de comédia, apesar da dor insuportável que estava sentindo, pulei na água com roupa e sapato... e quando eu subia para respirar, lá estavam as abelhinhas esperando, rondando a minha cabeça.. eu não sabia se ria, ou se chorava...
Apenas nós dois chegamos a este poço.. o guia estava logo atrás e tentava enfrentar as abelhas para resgatar o restante do grupo. Ficamos algum tempo dentro do poço até que as abelhas se acalmassem. Eu disse ao guia que continuaria a descida e ia procurar ajuda, mas não tínhamos sinal de telefone nem de rádio... o telefone fixo mais próximo estava cerca de 20km de lá. Ele pediu que esperássemos na base da cachoeira. Assim o fizemos, até não aguentar mais a espera.. fomos procurar o índio, ele certamente daria um jeito naquela situação. O encontramos em sua casa cuidando do jardim. Antes de subir para resgatar os demais integrantes do grupo (por um caminho alternativo), Seu Zé ainda teve tempo de fazer uma reza para nos aliviar a dor... tudo bem que índio era evangélico (pois é, Padre Anchieta...).. mas foi uma experiência marcante.
Logo na sequência, também desgarrados do grupo, apareceu o casal de cariocas... eles chegaram com as roupas todas rasgadas, foram descendo a ribanceira desesperados e quase rolando, pularam num poço de uma altura absurda sem saber a profundidade e se existiam pedras no local... não sei como não aconteceu nenhum acidente mais grave.
Eu sinceramente estava mais preocupada com uma pessoa do grupo que se dizia alérgica do que comigo. Aquela quantidade de ferroadas seria capaz de matar uma pessoa alérgica em poucos segundos, e nós, que estávamos lá embaixo, não sabíamos como os outros estavam... foi um momento meio tenso, mas Seu Zé conseguiu retornar com todos, aparentemente sãos e salvos. Mas não por muito tempo...
Antes mesmo de chegar à casa que ficava próxima da cachoeira, este garoto alérgico começa a vomitar muito... eu insistia que tínhamos que sair de lá o mais breve possível e que todos, sem exceção, deveriam procurar o hospital..
Este garoto e sua namorada ficaram na casa, e nós pegamos a trilha para chegar até os carros. Para resgatá-los, o índio tinha como abrir a porteira da fazendo ao lado para um dos carros entrar, e ao invés do casal andar os 4km que ainda restavam, teria que andar apenas 1km.
O guia certamente viveu um de seus piores dias.. estava com o joelho ruim e ficou três dias sem trabalhar para poder fazer esta trilha.. seu calçado arrebentou.. teve que andar descalço, levou a maior quantidade de picadas.. enfim.. um dia que ele certamente não esquecerá também.
No meio do caminho fui entregando os pontos. Fui reduzindo a velocidade, as outras pessoas do grupo foram me ultrapassando... fui perdendo as forças... o estômago começou a doer...e..... comecei a vomitar muito também. Foi tão ruim quanto marear (ou até pior)... parecia que meus órgãos iam sair pela boca. Não sei se já me senti tão mal assim em algum outro momento da minha vida... acho que não. Foi bem difícil completar a trilha e chegar ao carro. E mesmo assim, ainda estávamos muito longe da cidade, e consequentemente, do hospital.
O grupo se separou, foi um “salve-se quem puder”, mas no final acabamos nos encontrando... até onde sei, ninguém morreu!
No hospital, despertamos a curiosidade do povo local que queria saber o que aquele bando de turistas idiotas tinha aprontado. Demorei pra ser atendida (SUS). Fiquei conversando com uma mulher enquanto esperava atendimento. Ela, indignada, me perguntou: “Mas com tanta coisa bonita pra ver aqui, o que vocês foram fazer naquele fim de mundo no meio do mato?!!”. Eu respondi: “Exatamente por isso, porque é um fim de mundo no meio do mato”.
Tomei uma injeção (mais uma picada dolorida!) e soro na veia. A sala de repouso não tinha ar-condicionado, só um ventilador velho e barulhento. Entrei em desespero, suando, pressão baixa, morrendo de calor... dor na cabeça por causa das picadas, dor na bunda por causa da injeção.. uma agulha enfiada no meu braço por causa do soro... aquele foi um dos piores momentos do dia... Mas logo a medição fez efeito e dormi por algumas horas.
E eu que havia dito que Bonito não tinha aventura!!! Essa foi a maior aventura de toda minha vida! Certamente! Pior que nem posso processar a agência, eles não mentiram quando nos venderam o "Programa de índio"... cumpriram com o prometido.
No dia seguinte eu achava que ia acordar inteira inchada.. que nada. Estava normal. E como já estava agendada a flutuação no Aquário Natural, mantivemos a agenda do dia. A flutuação durou pouco tempo, apenas 800m. Senti muito frio. No final da tarde eu já não estava tão bem como no início do dia... provavelmente o efeito da medicação tinha passado... fui ficando indisposta, enjoada... na manha seguinte aconteceu o que achei que aconteceria antes.. acordei toda inchada, resfriada, com dor no corpo inteiro.
Dias de molho, doente. Por sorte eu não consegui marcar a visita ao Abismo Anhumas para o dia que eu queria... se tivesse marcado, eu não conseguiria mergulhar, meus ouvidos estavam entupidos. Nesses dias, eu só pensava em me recuperar para o mergulho. Não fiz nada que pudesse prejudicar minha saúde, a garrafa de tequila que compramos estava intacta...
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Mel: moradora do Balneário Municipal |
Do dia das abelhas, até o dia do Abismo, ficamos perambulando pela cidade sem nada pra fazer. Como eu disse antes, tudo paga... não é como ir à praia sentar na areia, contemplar a natureza e deixar o tempo passar. Não... lá todo e qualquer balneário é pago: R$20,00.. R$25,00... R$30,00... e como eu não podia beber... nem a opção “passar o tempo no boteco” teve chance. Não aguentávamos mais ficar naquele camping barulhento e com falta de água no banheiro...
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Piraputanga |
Experimentei alguns pratos típicos, entre eles jacaré e Piraputanga. A Piraputanga é o peixe mais abundante na região (esse que adora sair em todas as fotografias). Do jacaré eu não gostei, tem gosto de frango frito na gordura de peixe (a mesma coisa que as batatas fritas em quiosques de praia, elas sempre vem com um leve aroma de camarão!). Já a Piraputanga é uma delícia! Comi assada, mas preferi crua mesmo, em sashimi... costumam chamá-la de salmão do pantanal.
Finalmente dia 03/01 chegou.. não sei se minha ansiedade era maior porque eu faria o tão esperado mergulho, ou se era porque tinha chegado o dia de partir.
Abismo Anhumas
É a atração mais cara de Bonito. Mas depois de tanto pagar por coisas que não valiam tanto, achei que não podia sair de lá sem conhecer. E não me arrependi.
Na noite que antecedeu o passeio eu quase não dormi porque meu colchão inflável furou... além do desconforto, passei o maior frio. Queria muito estar descansada, afinal, teria que encarar um rapel de 72m de altura para chegar ao lago, depois mergulhar, enfim... não teve jeito, mas o cansaço logo passou quando a operação descida foi iniciada.
Experiência indescritível, algo muito diferente de tudo que eu já tinha visto e sentido mergulhando... não me impressionei tanto com as formações calcárias (que são muito mais abundantes na região do Petar em SP), mas vê-las sob a água cristalina foi algo totalmente novo. Mais interessante ainda foi a sensação que tive por estar num lençol freático... água fria, densidade muito diferente, ausência de correnteza, de refluxo...
Todo o conjunto torna este lugar um dos mais incríveis onde já estive.
Ok, isso que acabo de dizer contradiz outras coisas que escrevi no decorrer deste texto. Sim, sou mesmo um ser contraditório... mas neste caso cabe uma justificativa: é difícil explicar como me sinto, Bonito me causou amor e ódio... quando digo que não vale o que custa, não é porque as atrações naturais não são belas, sim, são muito belas... mas toda essa interferência humana me deixou decepcionada, toda essa super-exploração faz o turista desavisado pensar que essa é a única alternativa para desfrutar dos prazeres da natureza... mas existem muitos outros lugares bonitos e preservados mundo afora, que não tem esse valor agregado... em Bonito criou-se a mística de que “este é o preço que se paga para que o local esteja preservado”. E como eu já disse anteriormente, discordo. Criou-se uma forma de seleção e limitação às visitas por um único fator de exclusão: o fator do poder aquisitivo, o que pra mim é uma discriminação social. Nem mesmo os próprios moradores da cidade conhecem as atrações, até deles valores exorbitantes são cobrados (com exceção do balneário municipal). Nada justifica que nem seus próprios habitantes tenham acesso ao chamado paraíso, portanto, não posso considerar esta cidade como tal, já que o verdadeiro paraíso - na minha concepção, obviamente - só existe quando há uma perfeita integração entre homem e natureza.
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De volta ao camping... vamo embora!!!!! Na saída, Margarida ainda fala: “Ah... já?! ... fiquem só mais uma noite...”.
O verdadeiro paraíso
Pegamos a estrada rumo a Ponta Porã, cidade sulmatogrossese que faz divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
Objetivo? Depois de tanto ouvir a palavra Ecoturismo, decidimos colocar em prática outra atividade com o sufixo ISMO:
Consumismo.
Em Ponta Porã, foram três dias hospedados com relativo conforto... TV, frigobar, wi-fi e um bom chuveiro (água sem calcário, felizmente, meu cabelo estava parecendo uma vassoura de bruxa!). Liguei a TV para assistir ao noticiário local, não demorou muito pra eu me chocar com uma noticia sobre um ataque de abelhas com vitimas fatais... pensei: “nossa... não sei como nos livramos dessa!”.
Ao contrário de Ciudad de Este, Pedro Juan não tem fronteira, basta atravessar a avenida e pronto, chegou... Cidade muito mais tranquila e ainda por cima existem lugares específicos para comprar produtos de boa procedência. Recomendo três shoppings: West Graden, Studio Center e o maior shopping de importados da América Latina, o Shopping China.
Bebidas, perfumes, bolsas, óculos, eletrônicos, artigos de informática... tudo muito mais barato do que costumamos pagar no Brasil. Simplesmente o PARAÍSO das compras...
Felizes com as compras realizadas!! Pegamos a estrada. Dormimos uma noite em Presidente Epitácio, já no estado de SP.
Foi ai que descobri que oeste paulista tem praias... sim, tem mesmo! Praias do Rio Paraná. Lugar bem agradável... apesar de quente. Rodamos mais setecentos e poucos quilômetros para chegar em casa.
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Por um bom tempo ainda senti os efeitos do veneno das abelhas em meu corpo.. ainda sinto, pra dizer a verdade.
Depois de tudo que eu disse, se alguém me perguntasse se pretendo voltar para Bonito eu certamente responderia:
Sim, claro! Para mergulhar nas cavernas! Dizem que duas cavernas submersas serão reabertas para visitação: Gruta do Mimoso e a Lagoa Misteriosa. Mas para mergulhar nestas cavernas é necessário ter uma certificação que não tenho e estou bem longe de conseguir, portanto, acho que ainda vai demorar um bocado pra eu voltar...
Mas, para quem não tem nenhuma intenção de mergulhar em cavernas e só quer ver os peixinhos num rio cristalino e Gruta com Lago Azul, eu recomendaria o seguinte:
Vá para Nobres-MT... que como a própria propaganda da cidade diz...
“Nobres é mais que Bonito, é LINDO!!”
... brincadeiras à parte, vale a pena assistir a este belo vídeo realizado pelo pessoal de Bonito, mostra muito bem os encantos do Abismo Anhumas: